Por que estamos mais desatentos? Quando nossa atenção falha repetidamente, gerando prejuízos e nos expondo a erros constantes, é importante avaliarmos o que pode estar acontecendo para buscarmos a solução mais correta. Para isso, precisamos entender os fatores que podem contribuir para o excesso de desatenção, como a ansiedade, a sobrecarga de estímulos e até mesmo o transtorno do déficit de atenção/hiperatividade (TDAH).
Desatenção causada pela sobrecarga de estímulos
Vivemos em uma época onde a tecnologia tece uma teia constante ao nosso redor, conectando-nos ao trabalho, à vida social, aos estudos e ao lazer. Manter a atenção em pleno funcionamento tornou-se um desafio para nossas mentes, constantemente bombardeadas pelas mais diversas solicitações da vida. Tem sido muito comum escutarmos as pessoas ao nosso redor se queixarem sobre a dificuldade de lembrar tarefas, cumprir prazos, responder mensagens e estarem presentes em todas as demandas diárias, principalmente quando elas chegam pelas telas que nos cercam.
Assim, o cenário contemporâneo impõe um grande desafio: como o nosso cérebro, que permanece em sua essência com a mesma estrutura física há alguns milhares de anos, se adapta diante do excesso de tarefas e estímulos artificiais da nossa vida altamente tecnológica e conectada?
Os mais recentes estudos afirmam algo que todos nós, de alguma forma, já sabemos há muito tempo: a abundância de estímulos contribui significativamente para a desatenção. A constante exposição às informações, notificações e demandas multitarefas pode sobrecarregar nosso sistema cognitivo. O cérebro, apesar de sua notável capacidade de adaptação, enfrenta dificuldades em processar a avalanche constante de informações, resultando em lapsos de atenção.
Imagine-se tentando focar em uma tarefa importante enquanto seu telefone notifica simultaneamente mensagens de trabalho, redes sociais e notícias. A desatenção aqui não é apenas uma falta de foco, mas uma resposta natural a um ambiente saturado de estímulos, geralmente interessantes e estimulantes.
Estamos vivendo tanto no modo “automático”, que se torna muito fácil não percebermos quando estamos sobrecarregados e qual é o nosso limite frente às solicitações do mundo. Como a sociedade contemporânea valoriza aqueles que conseguem se envolver em mais de uma atividade ao mesmo tempo, acabamos acreditando que o problema está na nossa incapacidade de entregarmos tarefas e não na quantidade excessiva a que somos submetidos.
Desatenção como sintoma de ansiedade
Mas, nem sempre a desatenção é apenas o resultado do excesso de estímulos presentes em nossas vidas. A dificuldade atencional pode estar presente como sintoma de um estado emocional cada vez mais presente: a ansiedade. Preocupações constantes e pensamentos intrusivos podem prejudicar nossa capacidade de concentração. A mente ansiosa está frequentemente dividida entre o presente e um futuro incerto e ameaçador, resultando em dificuldade de focar naquilo que é necessário.
Aqui, a atenção é deslocada para os estímulos internos, caracterizados por pensamentos exageradamente negativos, que surgem como uma forma de defesa da mente. Geralmente são ideias distorcidas sobre fatos reais ou imaginários, que desencadeiam sérias alterações em nosso organismo.
Então, quando conseguimos compreender que estamos desatentos como resultado de um estado de ansiedade, precisamos buscar ajuda especializada. Neste sentido, o tratamento mais efetivo para auxiliar na diminuição dos sintomas fisiológicos é aquele que combina o uso de medicamentos, psicoterapia e práticas de mindfulness (atenção plena).
O mais cruel é que, tanto o excesso de estímulos quanto a ansiedade, são duas condições que facilmente estão presentes nas vidas das pessoas, gerando extrema dificuldade de focar e manter a atenção em atividades essenciais. Quantos erros fatais são cometidos, no mundo, pela falta de atenção? Se pensarmos apenas no que ocorre no trânsito, com motoristas que dirigem dividindo o olhar com seus smartphones, já temos uma dimensão bem significativa do quão danosa a desatenção pode ser em nossas vidas.
Desatenção como um transtorno
Para além da influência dos excessos de estímulos e da ansiedade, existe uma quantidade significativa de pessoas que possuem uma estrutura cerebral que aumenta consideravelmente a dificuldade de direcionar o foco da atenção, para as mais diversas atividades da vida cotidiana. Para esta parcela da população humana, a capacidade cerebral natural para captar estímulos é aumentada, resultando em uma quantidade maior de informações para o cérebro processar e encaminhar, trazendo uma série de desafios.
O Transtorno do Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH) representa uma manifestação mais profunda e persistente da desatenção. Enquanto a desatenção causada por fatores externos pode ser transitória, o TDAH é uma condição neurobiológica que impacta a atenção, o controle de impulsos e, em alguns casos, a hiperatividade, presentes desde a infância.
Assim como todos estamos suscetíveis a desatenção causada por ambientes excessivamente estimulantes e a estados emocionais alterados pela ansiedade, quem possui a mente hiperativa (tdah) também lida com estas variáveis que trazem, como consequência, um verdadeiro caos atencional. Quando estamos diante de tamanha dificuldade, se faz necessário a intervenção medicamentosa, capaz de regular o foco da atenção e de colocar a mente em um estado de funcionamento compatível com a mente não hiperativa, que seguirá tendo que enfrentar as altas demandas da vida.
Então, para quem é diagnosticado com TDAH, além do tratamento medicamentoso é recomendado o tratamento psicoterápico, preferencialmente através da abordagem cognitivo-comportamental, para que se aprenda estratégias de como lidar com demandas atencionais internas e externas, assim como reconhecer os excessos e estabelecer limites.
Como compreender e manejar a atenção
Muito provavelmente, daqui há alguns milhares de anos, se ainda estivermos habitando o planeta, certamente o cérebro humano terá evoluído em sua estrutura para dar conta de uma maior quantidade de estímulos ao mesmo tempo, com foco e eficiência. Enquanto isso, devemos buscar conhecer como nossa atenção funciona e entender qual é o nosso limite diante das tarefas que a vida nos impõe. O autoconhecimento é essencial para que saibamos diferenciar entre o que pode ser uma dificuldade real da nossa mente ou uma sobrecarga do ambiente.
Para ajudá-lo nessa tarefa, seguem algumas dicas para que você compreenda melhor como funciona a atenção humana e o que devemos fazer para preservá-la:
- Definição: a atenção é como um holofote mental que ilumina o que queremos focar, filtrando distrações. Ela é flexível e se adapta às nossas necessidades, podendo ser sustentada (manter o foco por longos períodos) ou seletiva (focar em um estímulo específico em meio a vários)
- Nutrição: uma dieta rica em vitaminas, minerais e ômega-3 (peixes, oleaginosas) fornece energia e nutrientes essenciais para o bom funcionamento do cérebro.
- Hidratação: beba bastante água! A desidratação pode levar à fadiga e dificuldade de concentração.
- A atividade física regular (30 minutos por dia) aumenta o fluxo sanguíneo para o cérebro, melhorando a oxigenação e a função cognitiva. Experimente caminhada, corrida, natação ou dança!
- Meditação: a prática regular de meditação aumenta a atenção plena, o foco e a capacidade de lidar com o estresse. Experimente aplicativos como Headspace ou Calm.
- Organização: crie um ambiente de estudo ou trabalho organizado e livre de distrações. Desligue o celular, feche abas desnecessárias no computador e encontre um local tranquilo.
- Faça pausas regulares: levante-se, movimente-se e descanse os olhos a cada 20-30 minutos para evitar a fadiga mental.
- Evite o multitasking: Foque em uma tarefa por vez para aumentar a qualidade do seu trabalho e evitar erros.
- Se você apresenta dificuldades de atenção persistentes que interferem no seu dia a dia, procure um neuropsicólogo para uma avaliação individualizada. Lembre-se: a atenção é uma habilidade que pode ser treinada e aprimorada com o tempo. Seguindo essas dicas, você estará no caminho certo para turbinar seu foco, produtividade e qualidade de vida!
Referências utilizadas neste artigo (clique para acessar):
- Estudos comportamentais e de neuroimagem sobre multitarefa: uma revisão de literatura.
- Os impactos sociais, cognitivos e afetivos sobre a geração de adolescentes conectados às tecnologias digitais.
- Repercussões das tecnologias digitais sobre o desempenho de atenção: em busca de evidências científicas.
- Terapia cognitivo-comportamental e o TDAH subtipo desatento: uma área inexplorada.
- Tecnologia deixa humanos com atenção mais curta que de peixinho dourado, diz pesquisa.
- Concentração perdida com uso de tecnologia ‘pode ser recuperada’.